terça-feira, 31 de julho de 2012

Back in Black


Hoje foi dia de Batman. Uma pequena intervenção em novo estilo de vida. Dividir as horas do dia entre estudo, aulas e pequenas pausas para comer e dormir, vem sendo um duro aprendizado. Não estou reclamando, longe disso, mas o corpo sofre para completar o processo de assimilação. Por isso me permiti, sem muito peso na consciência, desfrutar de um momento de prazer: assistir ao novo filme do Batman nos cinemas.

A excitação pelo reencontro não se faz necessário descrever. A certeza do compromisso trouxe-me lembranças do texto escrito no outro blog, onde fazia alusão a esse super herói, tentando ganhar forças para superar as dificuldades dos treinos nas ferrenhas batalhas enfrentadas pelo Cavaleiro. Chegara a hora. Estávamos frente a frente novamente.

Construção dos Alicerces

O filme, já de cara, cria um paralelo entre dois pilares centrais da trama: de um lado Bruce Wayne, vivendo nas sombras sob lendas urbanas que pairam por uma Gotham , cidade em uma paz que não lhe pertence; do outro apresenta ao mundo o que todos nós admiradores esperamos por tantos anos: Bane. Não um balão de seiva, como o apresentado em Batman Forever, total decepção. Agora se tratava do mais puro espécime de força bruta, repleto de ódio e sofrimento, nutrido pelo tempo que passou esquecido nas páginas dos gibis. Chegara sua hora e ele não iria desapontar.

Mas não são apenas os músculos que lançam Bane ao centro do palco. Envolto por uma máscara que lhe mantém sob o controle da própria dor que o persegue, é capaz de motivar pessoas, fazer crer seus objetivos, gerar um objetivo comum, criar um exército de fieis seguidores, capazes de achar na morte pela causa a maior retribuição pela lealdade prestada. Instalados em Gotham, Escondidos no submundo dos esgotos da cidade, aguarda momento exato de liderá-los rumo à guerra.

Enquanto isso, Bruce permanece escondido, apoiado em uma bengala, rastejando pelos corredores de sua mansão, sob os cuidados de seu eterno mordomo Alfred. Optou pela reclusão ao perder um grande amor e ver Batman renegado pelos seus, acusado (injustamente) pelo assassinato de um falso mártir. Pelo bem de sua cidade, ele se esconde.

Então é tentado pela jovem Selina Kyle, uma bela senhorita que, dançando entre a inocência de uma ninfeta e a malícia de uma gatuna, consegue não só roubar Bruce, como o faz após vencer um sistema de segurança, até então, tido como intransponível, além de, com um simples toque, jogá-lo ao chão com suas fraquezas. Do ponto mais baixo em que poderia estar, foi capaz de ver que ainda poderia seu útil, que a calmaria era utópica e que sua volta talvez fosse necessária. Após ser informado que o eterno chefe de polícia de Gotham, Comissário Gordon, fora baleado, que um mercenário habita o submundo de Gotham, as dúvidas já não o atormentam mais. Hora de revisitar a caverna, conferir seus equipamentos, visitar o velho amigo Fox (seu representante na empresa Wayne e fornecedor dos “brinquedos” mais cobiçados do mundo).

Faz-se dia e o filme “esquenta”. Bane e seu bando invadem a Bolsa de Gotham, dão início a um golpe e, após se verem cercados pela polícia, dão inicio a uma fuga alucinante. E, em meio a essa perseguição, em meio a uma queda de energia na cidade, a apreensão de um oficial veterano no filme e de todos que assistiam ao mesmo, vem surgindo mediante um barulho ensurdecedor e então ganha forma: sob sua moto (mais que moderna!!!), o homem morcego deixa as sombras e volta à ativa Batman ressurge!

O filme segue, o embate toma outro caminho, os pilares ainda não são postos à prova. Bruce Wayne, agora o mais novo pobre de Gotham City, vê em Selina sua única chance de chegar a Bane. Guiado pelos esgotos, o morcego se vê traído pela jovem e acaba se deparando com o monstruoso mercenário.

O Primeiro Confronto

É horripilante olhar para o rosto de Bane. Sua máscara, repleta de conexões, num primeiro momento pode se assemelhar a dentes, como se tentasse dar um ar mais agressivo à besta. Mas então os closes em sua face são constantes e a sensação de se ter duas mãos em sua face, como se segurassem suas mandíbulas fica muito forte. É impossível saber se estão ali na tentativa de abrir uma saída para tanto desespero acumulado naquele ser, ou se, oriundas de toda a extensão da cabeça de Bane, saibam o que habita aquela mente e tentam fechar o que seria a passagem para todo o mal produzido, como se o sufocassem com suas próprias desgraças.

Enquanto isso Batman enfrenta seu maior inimigo: ele mesmo. Bruce, fruto da violência de Gotham, sempre nutriu a revolta pela perda brutal de seus pais e canalizou em Batman toda a sua angústia por não ter sido apoiado quando mais precisou. Fez-se homem levando uma vida dupla e brincando com a morte ao encarnar o vigilante mascarado.
E Bane sabe com brincar com isso. Entre socos e pontapés, provoca os demônios que atormentam seu rival, o faz encarar sua própria decadência. Aqui, o filme fundamenta-se no mundo dos quadrinhos, trazendo à tona “O Cavaleiro das Trevas”, onde Batman se encontra senil, consumido pelo tempo, obrigado a retomar sua vida dupla e a pagar pelas limitações impostas pelo tempo. Nas telonas Wayne tenta recorrer àqueles sentidos e movimentos que o fizeram triunfar, mas ali parecem não surtir efeito. A cada golpe, uma humilhação. Bane se delicia com a fragilidade do herói. Sem fundo musical, a intensidade da cena é ditada pela ofegância de Bruce, suas explosões de ira e seus revides inúteis. Nesse momento a palavra “trevas” ganha notoriedade, transcendendo seu conceito superficial, o qual remete Batman à escuridão de uma caverna e traz à todo o vazio que habita aquele ser, o abismo no qual permanecera por tantos anos, sozinho, sem perspectivas maiores. Dá mais significado ao negro das vestes que, mais do que fator de camuflagem, expõe ao mundo quem realmente é Bruce Wayne. Após sofrer submeter o homem morcego a todo tipo de castigo, Nolan tem a frieza de reproduzir aquela que estampou o fim de Batman nos quadrinhos, o golpe de misericórdia. Como se carregasse um pequeno graveto, Bane ergue Bruce acima de sua cabeça e o descarrega em seu joelho. Um estalar causa desconforto a todos que presenciam a cena. Seria o fim?



Gotham “Cityada”
Bruce é levado à pior prisão do mundo, berço de seu algoz e sua provável sepultura. Lá, impedido de se locomover por conta do deslocamento de uma vértebra, é mantido vivo para assistir ao trágico fim arquitetado por Bane. Esse inicia seu movimento popular e, genialmente, consegue reter toda a força policial de Gotham nos esgotos e facilmente tomar o poder. Está instaurado o caos.

Bruce inicia seu processo de recuperação. Conhecedor da linha temporal dos planos de Bane e auxiliado por um médico exilado na prisão, calcula exatamente o quanto lhe resta para impedir o fim de sua cidade. Uma serie de flexões no inferno em que se encontra, tende a passar despercebido aos olhos dos menos atentos. Porém instiga os demais a se reconfortarem em suas poltronas. Sabem que o velho morcego assimilara suas fraquezas, mas ainda possuía total discernimento sobre suas capacidades. O que havia sido imposto a ele como castigo, acabara se transformando em aprendizado. Era chegada a hora do retorno.

O Segundo Confronto

De volta a Gotham, Bruce recorre mais uma vez a, agora devidamente apresentada por suas atividades, Selina Kyle. Ela sabe que o traíra seguidamente, mas ele parece não se importar muito cm o fato, transparecendo saber que, na verdade, ela o levara até onde ele esperava chegar. Mais uma vez juntos, iniciam a operação. A bela mais uma vez não se compromete a permanecer fiel aos propósitos. Seria um ato apenas e o fim. Conseguem então libertar  a força policial e, agora munido de um exército, Batman se vê pronto para liderá-los em busca da retomada do controle.

O embate final é digno das grandes guerras medievais. Os exércitos se projetam a um ponto em comum, atirando uns contra os outros, transpondo os corpos que vão desfalecendo ao longo do caminho. O encontro traz um poder descomunal, tamanha a massa envolvida. Em meio aos “soldados”, Batman e Bane se procuram. E se encontram.

O Morcego agora parece ter controle sobre suas emoções. Os dois ex-guerreiros da Liga da Escuridão desferem toda a técnica compartilhada no treinamento comum. Agora a força bruta de Bane parece não ser um obstáculo intransponível. Com golpes precisos, Batman toma o controle da situação, danifica a máscara de Bane que, agonizando pela dor agora explícita, inicia um ataque frenético e descontrolado. Completamente consciente de suas ações, o Cavaleiro vai impondo todo o castigo possível ao vilão que causara tanta destruição em seus mundos.

Prestes a dar se golpe de misericórdia, Batman se vê assolado por um golpe de traição. Ainda sem processar o que estava a acontecer, é colocado a par da real situação, da imensidão do plano e do papel secundário de Bane. Agora, mais uma vez condenado à morte, ferido e sem recursos para se libertar das garras de seu carrasco, o filme vira. Selina, popularmente conhecida por nós como Mulher Gato, mantém-se fiel aos seus instintos: independente, arisca, indomável, não se faz submissa a um dono, mas como um verdadeiro felino, não mede força para defender os membros de seu bando. Retorna ao confronto e, sob posse de um dos brinquedos de Bruce, extermina o grande Bane.

A partir daí segue-se as sequencias lógicas para que tudo dê certo.  Forças são concentradas para livrar Gotham da destruição, Batman oferece sua vida, mais uma vez em prol da cidade e, por fim, aqueles que por muito foram protegidos pelo Cavaleiro e em diversas oportunidades o desprezaram, enfim reconhecem seu valor e, em meio à sua provável morte, inauguram um estátua do Homem Morcego.

Mais uma vez, Christopher Nolan presenteia os fãs de Batman com uma leitura digna daqueles que cresceram perdidos no mundo dos HQs, conseguindo representar muito mais que socos, pontapés e efeitos especiais. Apresentou-nos o Curinga em sua forma mais delinqüente, completamente perturbado, capaz de tornar Batman secundário em seu próprio filme. Agora rege a obra com maestria, retirando de todos o máximo, causando desconcertamento aos que assistem ao filme, erupcionando todo o drama que por ventura ainda não havia sido percebido em torno de Batman. O Cavaleiro das Trevas ressurge sim. Após um hiato na série, conclui sua trilogia com chave de ouro, mas sem antes abrir possibilidades para novos projetos. Resta-nos aguardar por mais um grande espetáculo. Cerram-se as cortinas. O Homem Morcego refugia-se na escuridão mais uma vez.

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