Retornar aos treinos tem sido,
digamos, extremamente divertido. Não se pode dizer que é como se fosse a
primeira vez, pois em situações assim vive-se o momento e pronto. O volta à
ativa é envolta em especial sabor. Cada treino é çomo tomar um Cornetto e
esperar incansavelmente para chegar à bendita ponta do chocolate. Ou quando o
carrinho da montanha russa inicia seu percurso e já na primeira subida já
estamos com frio na barriga, apenas aguardando os próximos segundos. Quem nunca
acompanhou uma música esperando para se acabar no refrão? Aquele mesmo que te
fazia pular e gritar junto com seus amigos? Bom demais.
Pois bem, é assim que vinha
conduzindo cada sessão de treino. Corridas curtas, sem forçar no ritmo,
distâncias progressivas, treinos de bike contidos, ganhando horas de selim,
calejando, buscando cada vez mais prolongar minha permanência ali. E a cada
pequeno progresso, desde um quilômetro a mais percorrido ou um tempo menor para
uma volta, conseguir girar em cadência de 100 rpm ao longo de todo o treino,
tudo isso fazia crescer a vontade de experimentar a combinação perfeita, a
dupla dinâmica, aquela que por muito ocupou minhas quintas e sábados: ciclismo
e corrida. Mesmo um brick pequeno despende um tempo considerável, o qual, na
linha de minhas prioridades atuais, não tinha. Seria em um dia em que
conseguisse produzir nos estudos, estivesse sossegado com aulas e sem
obrigações maiores.
E o grande dia chegou.
Ironicamente quando comemoramos a Independência do Brasil, iria eu enfim poder
me libertar das amarras que por muito me prenderam e impediram que fizesse o
que, por muito e todo o sempre, me centra, energiza, permite que renove corpo e
mente. Já era tempo. Comprido com boa parte das obrigações, mais um fim de
tarde belo e seco em Goiânia, não restavam dúvidas: bike no rolo, tênis perto
da porta, gel separado, garrafas devidamente preenchidas, treino planejado,
hora de cantar o refrão, encarar a descida, comer a pontinha de chocolate.
Chegara a hora de me divertir!
O ciclismo seria um intervalado:
5x (10’ (95-100 rpm) x 2’ coroa pequena). Retomei minhas planilhas do ano
passado, pois já demonstram seu “poder” e, com certeza, me darão a base
necessária até janeiro. O primeiro bloco foi tranqüilo. Técnica mantida,
buscando a posição correta na bike, girando bem, carga ideal e o suor já
marcava presença (e olha que pra algo ficar molhado por aqui é difícil! Haja
água!!!). Segundo bloco, terceiro, tudo certo. Ao começar o quarto e penúltimo
senti que as pernas já estavam sentindo a ritmo. Ótimo!!! “Foca no treino”,
certo Murilo Barizon? Abaixado no clipe, olhar no horizonte, o segredo é limpar
a mente. A cada situação de desconforto, ao menor sinal de dificuldade, pode
estar certo que seu cérebro vai tentar te induzir ao erro. Não o faz por
maldade, é apenas o processo de seleção natural. Alguns simplesmente poderiam
parar, desistir, se perguntar o porque. “Não agora, não comigo”. Com a mente
limpa, branca como uma folha de papel, fica mais fácil desenhar o que vai dali
pra frente. No meu caso mais 20 minutos de treino forte!
Quinto e último bloco feito em
meio a técnica de respiração, planejamento de percurso pra corrida e alguns
xingamentos para tentar manter a carcaça em movimento. Ciclismo completo, 34.7
km percorridos em 1hora e cinco minutos, com aquecimento e tudo, pernas soltas,
troca de “pisante” feita com sucesso, partimos para a corrida.
Nossa, realmente já não lembrava
como era sair pra correr após pedalar. Controlar o ritmo, abaixar a freqüência,
acertar o passo, encaixar a corrida e seguir. A figura do Mestre Márcio
ressurgiu em minha mente e, junto com ele, meu Garmin suicida, que insistiam em
me colocar para rodar em um pace exato. “5’29 não é 5’30”. Como ouvi isso...
Voltei minha atenção pra técnica de corrida, segurei a empolgação oriunda em
parte da bike, mas em maior parte pelo estado de graça que nos encontrávamos. A
corrida seria curta, mas bem proveitosa.
Entorpecido, fizemos uma volta
pela cidade de Goiânia e, quase sem perceber, nos vimos novamente em frente de
casa. Foram apenas 40 minutos, o suficiente para o retorno e, mesmo querendo
mais, deu-se por finalizado ali. Desde 27 de maio não experimentava situações
que me remetessem ao triatlo. Fizemos a primeira boa sessão, estamos de volta,
agora começa a caminhada rumo ao Ironman de 2013. Feliz por perceber que não só
de boas lembranças vivem um homem. Agora falta arranjar uma piscina,
desenterrar o Neon, a planilha da Elo, reler aqueles loooongos de treinos que
por muito insistiam em aparecer e, graças a eles, tiramos de letra os 3800
metros de natação. Mas será impossível, quando já não tiver mais a conta de
quantas piscinas fizemos, não lembrar a figura do Mestre das Águas, o único
portador de um tubarão híbrido, percorrendo toda a borda e buscando manter o
nível sempre acima do que pensávamos ser capaz. Sempre sorrindo! Que volte a
rotina, as planilha semanais, os longões de final de semana. Que venha janeiro,
que a loucura recomece, que o “nível lesão” de viver a vida ressurja. Estamos
prontos. Uma resma de A4 aguarda ansiosa para dar forma a mais boa historia. No
aguardo, só não demore.